Raízes Antropológicas
A história do povo brasileiro sempre nos foi apresentada sob a ótica do colonizador. A começar pelo emblemático “descobrimento” do Brasil. A palavra soa estranho, pois o país (ou estas terras) já era habitado por nativos, muito antes do ano de 1.500. Povos de etnias diversas espalhados por um território continental. O que o delimitava eram suas faixas litorâneas e a ocupação de tribos que também guerreavam por seus territórios. Para entender a formação da cultura caipira é preciso levar esse dado em consideração, pois os europeus que aqui aportavam já encontravam uma rica diversidade cultural. Crenças, música, danças, agricultura, técnicas bélicas, culinária e rituais tão ricos quanto o espaço territorial encontrado.
Sabe-se que as naus que aqui chegavam, no século XVI, traziam uma leva enorme de portugueses que, chegando a estas terras, encontravam povos culturalmente bem diferentes em seus valores culturais/morais/religiosos. A começar por suas vestimentas e pelos casamentos polígamos, muito comuns entre os povos nativos encontrados. A grande miscigenação do povo brasileiro teve o seu início neste período. A primeira leva são os mamelucos – mistura do nativo com o português. Considero aí a gênese da cultura caipira. Essa introdução se faz necessária, pois toda a cultura caipira é fortemente permeada por elementos advindos dessas duas culturas.
Após este primeiro contato entre nativos e portugueses a partir do século XVI, foram-se desenhando outros desdobramentos de cunho identitário (franceses, espanhóis), culminando com a chegada dos africanos advindos do Congo, Angola, Moçambique, Nigéria e outras partes do continente africano, tendo o seu apogeu entre os anos 1710 e 1810. Italianos, alemães, japoneses, sírio libaneses formam a partir do século XIX a maior leva de imigrantes que fincaram suas raízes no Brasil. E que se acaipiraram, trazendo sua rica cultura e irmanando-se com a já existente nestas terras.
O espalhamento
Entre os séculos XVI e XVII, comerciantes estabelecidos na capitania de São Vicente empreendem grupos denominados “Bandeiras” formados por indígenas, portugueses e mamelucos em busca de minas de ouro e pedras preciosas, além da captura de indígenas para escravizá-los e/ou vende-los à engenhos de açúcar.
Estas expedições exploratórias determinaram a ampliação dos limites do tratado de Tordesilhas, expandindo o território da coroa portuguesa. Estes agrupamentos eram também chamados de “paulistas”, pois saíam em sua grande parte da Vila de São Paulo, hoje, cidade de São Paulo e de São Vicente.
Tais movimentações serviram não só para abrir fronteiras, mas também para levar através dos caminhos percorridos e locais estabelecidos a cultura bandeirante, posteriormente chamada, cultura caipira.
(1) Porção continental pertecente à Coroa Portuguesa
(2) Rotas de exploração dos bandeirantes
(3) Mapa da Colônia Portuguesa em 1709 com a Capitania de São Paulo em seu máximo pela ação dos bandeirantes
No primeiro mapa Vê-se a porção original da Coroa Portuguesa pelo Tratado de Tordesilhas com suas Capitanias Hereditáras – 1534/1536 (1). No segundo mapa as movimentações exploratórias dos bandeirantes (1550/1720) (2) com as novas delimitações conquistadas (3) estando São Paulo, ainda uma capitania, com suas fronteiras em seu tamanho máximo (1709). Com isso, a culinária, o dialeto, a vestimenta e a fé bandeirante (caipira) se irradiou de São Paulo através das terras onde hoje são os estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Paraná . Alguns estudiosos apontam ainda faixas dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estes devido ao tropeirismo, movimento pós bandeirismo e também um importante disseminador da cultura caipira.
Esta nossa conversa inicial a respeito da cultura caipira foi na verdade, um apanhado geral dos acontecimentos ocorridos no Brasil que estabeleceram os patamares de nossa identidade cultural, especialmente na região sudeste onde se encontra a cultura caipira. Ainda há muito discorrer sobre este assunto. No próximo texto, falaremos sobre os desdobramentos de toda esta aventura dos paulistas que, a seu jeito, espalharam a sua cultura Brasil adentro.
Fontes:
História pré-cabralina no Brasil (Wikipédia)
O povo Brasileiro – Darcy Ribeiro
História de São Paulo (Histórianet)
Ruth Rubbo
Há mais de quinze anos atua em gestão/produção cultural. Filha, neta e bisneta da cultura caipira paulista, sua grande paixão. Violeira, é autora de diversos projetos culturais com foco na defesa e fomento de nossas raízes identitárias.
Membro da Comissão Paulista de Folclore.
Fundadora do Centro de Tradições Caipiras de Atibaia