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O Dialeto Caipira

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Para falar do dialeto caipira é preciso voltar às raízes da nossa linguagem. Quando os portugueses aqui chegaram encontraram povos nativos distribuídos em diversas tribos com línguas diferentes por todo o continente. E especificamente na região sudeste, que é o tema desse texto, povos diversos que falavam numerosos dialetos, mas que tinham uma língua em comum: a tupi-guarani.
Com a vinda dos jesuítas, já na metade do século XVI, um deles se destacou no sentido de melhorar a comunicação com os indígenas 
com o intuito de catequizá-los: José de Anchieta. O jesuíta aprendeu o tupi-guarani e agregou à linguagem indígena elementos do português e do espanhol. Nasce aí o nheengatu (ou língua geral meridional). Até o ano de 1758 era a língua corrente falada de São Paulo ao Rio Grande do Sul até ser proibida pela Coroa Portuguesa. A dominação cultural teve o seu efeito nas comunicações oficiais, porém o nheengatu continuou a ser falado no centro sul tendo se espalhado por toda a Paulistânia.

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São Paulo com sua extensão máxima em mapa de 1709. Nota-se o espaço ocupado pelos paulistas (bandeirantes) espalhando a sua cultura por toda a região.

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Marcas identitárias

Com o tempo, o nheengatu deixou de ser falado, impregnando a sua marca indelével no português da Paulistânia através do dialeto caipira.
Mesclado à diversos elementos advindos de povos oriundos de toda parte desde o século XVI, o dialeto caipira se mantém vivo e bastante utilizado em toda a região sudeste, especialmente nos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Groso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

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Em amarelo, região do Brasil onde se faz presente o dialeto caipira.

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Ao contrário da afirmação de Amadeu Amaral em seu Dialeto Caipira (1920), de que este desapareceria em espaço breve, isto não aconteceu. Ele é encontrado em regiões bem próximas aos grandes centros urbanos e mesmo nas cidades do interior paulista, grandes e médias, vislumbramos um modo de falar caipira quase intocado. Tais alegações se fundamentam pela minha própria vivência. Estou em meio a uma região (Atibaia) onde o dialeto caipira é falado de forma bastante expressiva. Agregando novas expressões, é fato, como toda língua viva. Transformado-as, seguindo o dinamismo do seu caminhar. Porém vibrando ainda com muita força.


Exemplo disto são os inúmeros detalhes da nossa fala, que naturalmente passam despercebidos por nós que a praticamos, mas que são apontados em inúmeras publicações de estudiosos da língua portuguesa e seus dialetos.


Algumas palavras do nosso caipirês
Exemplifico aqui alguns termos que você certamente irá se identificar (são muitos; isto renderia mais alguns textos)


Verbos no infinitivo são suprimidos o “r” do final como:
fazer – “fazê”; crer – “crê”; falar – “falá”; estudar – “estudá”


O “o” é substituído por “u”:
domingo – “dumingo”; cozinha – “cuzinha”


O “en/em” é substituído com “in/im”:
“insino”; “imprego”


Reduz-se o “ei” subtrai-se o “i” quando seguido de “r”, “x” ou “j”:
beirada – “berada”; peixe – “pêxe”; beijo – “bêjo”


Suprime-se o “d” nas palavras:
Andando - “andano”; fazendo – “fazeno”; vendo – “veno”


Isto sem falar na joia a coroa - o “r” retroflexo (usado no meio de palavras como porta, carta, porteira), o que caracteriza e identifica de pronto o falar caipira.


Termos comparativos
Português de Portugal - língua falada de forma vigorosa e rápida com supressão de algumas vogais


Dialeto Caipira -- tom de frasear lento com alongamento das vogais.


A seguir alguns termos tupis que dão nomes a  Rios, cidades, bairros, povoados:
Guarapiranga, Aricanduva , Cupecê, Anhangabaú, Ibirapuéra, Caçapava, Canindé, Imbiras, Itaberaba, Butantan, Carapicuiba, Guapira, Itacuaquecetuba, Itacuéra, Jaguaré, Itaguassu, Jaraguá, Pacaembú, Tamanduitei


Animais
Acará, guará, maracanã, sucuri, araponga, siriema, sussuarana, arara, gambá, mutuca, tatu, bacurau, içá, mutum, tamanduá, biguá, irara, paca tambiú, pacu, tanajura, jacaré, tangará, sabiá, sanhaço, urubu


Vegetais
Abacate, capixingui, ipê, piri, abacaxi, capitava, jaborandi, pitanga, Andaguassú, caraguatá, jabuticava, piúva, carnaúba, jacarandá samambaia, Aruêra, maracujá, guabiroba, cipó, capim, ingá, mandioca, Cambuci, tiririca, sapé, manacá, pipoca


Mais adiante voltarei ao tema, que é vasto. Trouxe, por hora, o que considerei importante para um primeiro entendimento sobre este assunto que tanto nos diz respeito.

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Fonte: Dialeto Caipira, Amadeu Amaral; Cantando a Própria História, Ivan Vilela; O Caipira, Antônio Cândido, O Povo Brasileiro - Brasil Caipira, Darcy Ribeiro


Inté mais vê!

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Ruth Rubbo

Há mais de quinze anos atua em gestão/produção cultural. Filha, neta e bisneta da cultura caipira paulista, sua grande paixão. Violeira, é autora de diversos projetos culturais com foco na defesa e fomento de nossas raízes identitárias.

Membro da Comissão Paulista de Folclore.

Fundadora do Centro de Tradições Caipiras de Atibaia

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